segunda-feira, 1 de março de 2010

O Parque da Tamarineira


Em dia da semana passada, editorial do Jornal do Commercio, do Recife, tratou do projeto de transformação da área onde se localiza o Hospital Ulisses Pernambucano, no bairro da Tamarineira, na zona noroeste da cidade, em parque público, sob administração privada, contando com um shopping center, preservação e manutenção de  setenta por cento do terreno arborizado e dois museus, a que seriam  destinados os atuais prédios edificados no local.
O projeto foi apresentado, aos meios locais de comunicação pública,  pela Diocese de Olinda e Recife, que administra a Santa Casa de Misericórdia do Recife,  que é a proprietária e mantenedora, com auxílio governamental, do hospital ali instalado, destinado ao internamento de alienados mentais oriundos das classes mais necessitadas da região.
Segundo noticiado, a área seria cedida a uma empresa privada por cinquenta anos, a qual construiria e exploraria o shopping center, bem ainda apalheraria os dois prédios existentes para servirem como museus e manteria as condições para uso público do parque a ser por ela equipado.
Demais disso, a empresa cessionária do terreno remuneraria a Santa Casa de Misericórdia, a partir do terceiro ano da cessão, com dez por cento dos lucros que vier a obter com a exploração do empreendimento e os pacientes  ali localizados seriam transferidos para cinco unidades em locais diversos.
Essa remuneração pela cessão do imóvel viria a calhar para a Santa Casa de Misericórdia, que vive dos parcos recursos arrecadados com os alugueres dos muitos imóveis de sua propiedade no Recife, mas que são de valores ínfimos em face dos tempos imemoriais das locações ajustadas por tempo indeterminado. 
O editorial jornalístico, aqui ao início mencionado, não se posiciona de modo claro sobre o assunto. Apenas analisa-o ligeiramente, sobre os aspectos da antiguidade das edificações ali construídas e a inevitabilidade da modernidade, no caso representada pela instalação de um shopping center no mesmo lugar.
No entanto, diversas forças de expressão política em Pernambuco se levantaram contra o projeto, sem que demonstrassem efetivamente qualquer argumento relativo aos reais interesses das populações afetadas diretamente pelo projeto, salvo o aumento de fluxo do tráfego no local.
Integrantes da categoria médica organizada vieram a público expressar a sua contrariedade ao projeto, porque acreditam que os internados no hospital ali existente poderão ser abandonados em situação pior do que se encontram.
Considero esses posicionamentos contra o projeto do Parque da Tamarineira, contendo um centro comercial, antes mesmo da certificação dos termos em que se daria a transação entre a Santa Casa de Misericórdia e a empresa empreendedora, comportamento maniqueísta açodado, a permitir também avaliação de que poderiam ser meros discursos pré-eleiçoeiros.
Tem-se que observar a destinação da área urbana ocupada com o Hospital Ulisses Pernambucano, popularmente conhecido como Hospital de Alienados da Tamarineira, não como como uma questão pautada por política partidária ou de classe profissional; mas pautada pelo melhor aproveitamento possível que se possa obter com o novo destino que se der à área, em pró da população em cujo habitat se encontra encravada.
A Santa Casa de Misericórdia do Recife é também mantenedora do Hospital do Câncer do Recife e vive em crise financeira permanente, que poderia vir a ser minorada com a renda advinda da participação nos lucros gerados pela exploração do centro comercial.
A área é vocacionada à preservação ambienta,  mas não se pode afirmar que se encontra preservada, pois o seu terreno não edificado se vê a décadas BALDIO – este o termo exato. Preservar não é abandonar, desleixar; sim manter, cuidar.
Pelo que se noticiou, a área do terreno – hoje, nessa condição baldia, viria a ser efetivamente preservada e equipada devidamente para utilização pela população, com a manutenção a cargo da empresa empreendedora do projeto.
Com relação à preocupação da categoria médica com o destino dos atuais pacientes do Hospital Ulisses Pernambucano, a viverem em estado de penúria, mal atendidos por um sistema de saúde deficiente, há que se exigir da empresa empreededora a efetiva disponibilidade dos cinco prédios hospitalares previstos, devidamente adequados e aparelhados para o digno atendimento desses desafortunados viventes, bem ainda o permanente acompanhamento da assistência àqueles nosocomiados pelas entidades profissionais atinentes ao assunto.
Quanto à alegação de que o centro comercial a ser construído no Parque da Tamarineira traria transtornos ao trânsito na já conflituada Avenida Conselheiro Rosa e Silva, é de se considerar que justo ali essa via, que prossegue com o nome de Estrada do Arraial, também se abre em leque, para o Oeste e para o Norte em ampla avenida com dupla mão de tráfego, conhecida como a Segunda Perimetral da cidade, constituída pelas Ruas Padre Roma e Cônego Barata; a qual ainda conecta com a Avenida José Maria, que permite o trânsito do Parque da Jaqueira até a Avenida Norte, na Encruzilhada; cujas vias, circundantes  da área em foco, serviriam para os fáceis e desembaraçados acesso e saída tanto do Shopping Center como do parque projetado.
Enfim, sendo certo o que se anunciou na mídia sobre o projeto do Parque da Tamarineira, não se veria na sua realização contrariedade à preservação do meio ambiente e dos dois prédios ali edificados, nem a princípio aos interesses dos pacientes ali internados nem mesmo ainda  aumento dos percalços ao trânsito local.
PCS