terça-feira, 27 de outubro de 2009

INDIGNAÇÃO COM AS LARANJEIRAS

Final da semana passada, uma amiga encaminhou-me dois artigos jornalísticos sobre dois dos mais momentosos acontecimentos de repercurssão política nacional. A amiga acrescentou uma nota de surpresa sobre o artigo que teria sido publicado pelo Prof. Bresser Pereira em coluna na Folha de São Paulo, dia 19/10/2009, que analisa com grande propriedade e precisão a destruição de laranjeiras, no interior paulista, por trabalhadores rurais sem terra. A surpresa tem fundamento em que a análise percuciente do professor não se ajusta bem ao seu notório posicionamento neo-liberal, cujo agrupamento partidário envida todos os seus esforços para instituir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com o fito de demonizar perante a sociedade brasileira o movimento dos trabalhadores em terra, em marcha batida para extirpar de uma vez a Reforma Agrária do Brasil.Assim, passo a transcrever o mencionado artigo, textualmente como o recebi.

INDIGNAÇÃO COM AS LARANJEIRAS
Por que não nos indignamos com a captura do patrimônio público que ocorre todos os dias em nosso país? Há uma semana, duas queridas amigas disseram-me da sua indignação contra os invasores de uma fazenda e a destruição de pés de laranja. Uma delas perguntou-me antes de qualquer outra palavra: "E as laranjeiras?" -como se na pergunta tudo estivesse dito. Essa reação foi provavelmente repetida por muitos brasileiros que viram na TV aquelas cenas. Não vou defender o MST pela ação, embora esteja claro para mim que o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem terra é uma das únicas organizações a, de fato, defender os pobres no Brasil. Mas não vou também condená-lo ao fogo do inferno. Não aceito a transformação das laranjeiras em novos cordeiros imolados pela "fúria de militantes irracionais". Quando ouvi o relato indignado, perguntei à amiga por que o MST havia feito aquilo. Sua resposta foi o que ouvira na TV de uma das mulheres que participara da invasão: "Para plantar feijão". Não tinha outra resposta porque o noticiário televisivo omitiu as razões: primeiro, que a fazenda é fruto de grilagem contestada pelo Incra; segundo, que, conforme a frase igualmente indignada de um dos dirigentes do MST publicada nesta Folha em 11 deste mês, "transformaram suco de laranja em seres humanos, como se nós tivéssemos destruído uma geração; o que o MST quis demonstrar foi que somos contra a monocultura". Talvez os dois argumentos não sejam suficientes para justificar a ação, mas não devemos esquecer que a lógica dos movimentos populares implica sempre algum desrespeito à lei. Não deixa de ser surpreendente indignação tão grande contra ofensa tão pequena se a comparamos, por exemplo, com o pagamento, pelo Estado brasileiro, de bilhões de reais em juros calculados segundo taxas injustificáveis ou com a formação de cartéis para ganhar concorrências públicas ou com remunerações a funcionários públicos que nada têm a ver com o valor de seu trabalho. Por que não nos indignarmos com o fenômeno mais amplo da captura ou privatização do patrimônio público que ocorre todos os dias no país? Uma resposta a essa pergunta seria a de que os espíritos conservadores estão preocupados em resguardar seu valor maior -o princípio da ordem-, que estaria sendo ameaçado pelo desrespeito à propriedade. Enquanto o leitor pensa nessa questão, que talvez favoreça o MST, tenho outra pergunta igualmente incômoda, mas, desta vez, incômoda para o outro lado: por que os economistas que criticam a suposta superioridade da grande exploração agrícola e defendem a agricultura familiar com os argumentos de que ela diminui a desigualdade social, aumenta o emprego e é compatível com a eficiência na produção de um número importante de alimentos não realizam estudos que demonstrem esse fato? A resposta a essa pergunta pode estar no Censo Agropecuário de 2006: embora ocupe apenas um quarto da área cultivada, a agricultura familiar responde por 38% do valor da produção e emprega quase três quartos da mão de obra no campo. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, nesta Folha listou esses fatos e afirmou que uma "longa jornada de lutas sociais" levou o Estado brasileiro a reconhecer a importância econômica e social da agricultura familiar. Pode ser, mas ainda não entendo por que bons economistas agrícolas não demonstram esse fato com mais clareza. Essa demonstração não seria tão difícil -e talvez ajudasse minhas queridas amigas a não se indignarem tanto com as laranjeiras.
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 75, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

MICHAEL MOORE: DEMANDAS AO PODER PÚBLICO NORTE-AMERICANO

O criador deste blog - e principal responsável pelas postagens nele publicadas – desde alguns meses é cadastrado nos contatos de MICHAEL MOORE, o polêmico cineasta americano, diretor de Tiros Em Columbine, entre outros filmes contemporâneos de grande repercussão mundial. Entre as últimas mensagens dele recebidas, uma reporta 15 demandas dirigidas aos poderes públicos norte americanos que são causas da maior importância também para nós brasileiros. Por isso faço a postagem inicial de cinco dessas demandas, como segue abaixo, segundo a nossa livre tradução. Antes, porém, das demandas transcrevo, no original, o texto da mensagem que as enncaminha:

Michael Moore's Action Plan: 15 Things Every American Can Do Right Now" You've Seen the Movie -- Now It's Time to ACT! Thursday, October 22, 2009 Friends, It's the #1 question I'm constantly asked after people see my movie: "OK -- so NOW what can I DO?!" You want something to do? Well, you've come to the right place! 'Cause I got 15 things you and I can do right now to fight back and try to fix this very broken system. Here they are:

"CINCO COISAS QUE DEMANDAMOS AO PRESIDENTE E AO CONGRESSO QUE FAÇAM IMEDIATAMENTE.
1.DECLARAR A MORATÓRIA DE TODOS DESPEJOS RESIDENCIAIS. Nenhuma família mais seja tirada da sua residência. Os bancos precisam ajustar os pagamentos mensais das suas amortizações ao que as casas das pessoas valem realmente agora – e o que elas podem pagar.Também precisa ser declarado em lei: Se você perder seu trabalho, você não pode ser tirado da sua casa.
2.O CONGRESSO PRECISA JUNTAR-SE AO MUNDO CIVILIZADO E EXPANDIR O SERVIÇO FEDERAL DE SAÚDE A TODOS OS AMERICANOS. Uma pessoa, sem fonte de recursos precisa recorrer a sistema de saúde universal (e que cubra a todos). Os custos médicos são agora a primeira causa de quebras e despejos neste país. O Serviços Federal de Saúde para todos será o fim da miséria. Para fazer isso acontecer a nota é ligar para HR 3200. Você pode ligar e escrever para seu congressista e pedir para isto passar, (e sem compromissos).
3.PEDIR ELEIÇÕES COM FUNDOS PÚBLICOS A PROIBIR QUE OS ELEITOS ABANDONEM SUAS FUNÇÕES VIRANDO LOBISTAS. Sim, aqueles muitos congressistas que solicitam e recebem milhões de dólares dos interesses dos abastados precisam votar para remover TODO dinheiro do nosso processo eleitoral e legislativo. Para dizer ao seu congressista que ele precisa defender o financiamento de campanha anote: HR 1826.
4.CADA QUAL DOS 50 ESTADOS PRECISA CRIAR UM BANCO PÚBLICO ESTADUAL PRÓPRIO COMO TEM EM DAKOTA DO NORTE. Agora o Congresso PRECISA reintroduzir toda a estrita regulamentação pré-Reagan sobre todos os bancos comerciais, firmas de investimento, companhias de seguros – e todas outras atividades econômicas (indústrias) que tem sido selvagens pela desregulamentação, linhas aéreas, indústria de alimentos, companhias farmacêuticas – é o seu nome. Se o motivo principal para as companhias existirem é fazer lucro, então elas precisam de um conjunto de regras rigorosas para viver – e a primeira regra é “Não faça dano”. A segunda regra: A questão sempre mais perguntada: “Isto é para o bem comum ?”
5.SALVEM ESTE FRÁGIL PLANETA E DECLAREM QUE TODAS FONTES NATURAIS DE ENERGIA ACIMA E ABAIXO DO CHÃO SÃO PROPRIEDADES COLETIVAS DE TODODS NÓS. Justo como se faz no Alaska socialista de Sarah Palin. Nós só temos poucas décadas de resto de óleo. O público precisa ser o proprietário e senhorio dos recursos naturais e energia que existem dentro das nossas fronteiras ou nós desceremos fortemente dentro da anarquia empresarial. E quando assim se vem queimando combustível para nos transportar, nós precisamos cessar de usar o motor de combustão interna e orientar nossos autos/companhias de transporte para (recontratar) nossa força de trabalho hábil e construir trânsito de massa (ônibus limpos, trens leves, metrôs, trens bala, etc) e novos carros que não contribuam para alteração climática. Peçam que o Presidente de fato da GM, Barack Obama, faça um desafio JFK estilo-homem-na-lua para tornar nosso país uma nação de trens e ônibus e metrôs. (Para Pete, povo,) nós fomos os primeiros quem inventou (ou aperfeiçoou) essas coisas prejudiciais."

N.T.- Todas as expressões em itálico, nos espaços entre parênteses são traduções literais das constantes do texto original.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

COLUNISMO PARTIDÁRIO

Seria democraticamente razoável que os veículos de imprensa, no Brasil, fossem apenas órgãos de associações representativas dos mais diversos segmentos da sociedade civil brasileira, tais como as sindicais, as políticas, as religiosas, as de classe. O que não conduz à efetivação real da democracia no País é o domínio pleno que o poder econômico exerce sobre a grande imprensa nacional e, também, sobre os demais meios de comunicação com noticiosos públicos; pois que esses grandes veículos de comunicação, por serem pertencentes a grupos empresariais de monta, sói defendam sobremaneira os seus interesses privados e dos fechados grupos sociais a que se integram, em detrimento das causas e interesses públicos e verdadeiramente sociais. Para a democracia, no entanto, mais perverso ainda, por seu potencial de dano efetivo à formação da consciência cidadã da população, é que esses órgãos, a par de não assumirem publicamente suas condições de expressões de determinados segmentos do poder econômico, se auto-proclamam expressões da OPINIÃO PÚBLICA e propagam exercitarem noticiários independes e isentos. Nesse diapasão, não é incomum se encontrarem colunistas políticos da grande imprensa nacional, que se apresentam como severos Catões observadores da política brasileira, quando revelam-se reiteradamente, em seus escritos, meros porta-voz arraigados de determinados segmentos ideológicos-econômicos nacionais. Em Pernambuco, há um jornal diário que publica, comumente lado a lado nas páginas centrais do caderno de política, as colunas de dois jornalistas políticos perfeitos exemplos desse estado de potencial dano à formação cidadã. Uma dessas colunas políticas, assinada por um jornalista local, é a mais lídima expressão do ARENISMO pernambucano, que perpassou por pedessismo, pefelismo, até revestir-se de DEMOcratas. Para bem da democracia, essa coluna deveria assumir publicamente a sua origem e a sua ideologia, para que o público ao lê-lo saiba que opinião está a ler, não se engane com a esperança de ler algo independente ou isento. Do mesmo modo pratica a outra coluna, assinada por jornalista brasiliense, de posicionamento político e expressões jornalísticas que revelam a sua formação UDENISTA, o antigo partido da eterna vigilância da democracia que, depois da tentativa de golpes de estado e de contribuir efetivamente para a instauração e manutenção do regime militar, parece redivivo no PSDB. Há ainda outros casos no País, até mesmo de âncoras de noticiosos de TV que, à guisa de comentários, assumem escancaradamente os interesses de ruralistas, que seriam inclusive invasores de terras públicas, para demonizar impiedosamente o movimento social dos sem terra, pela destruição de laranjais ali ilegalmente plantados. Difícil é determinar em qual expressão partidária esse âncora se revela, porque os ruralistas grileiros de terra se acomodam nos muitos partidos conservadores existentes. Tem até um que já foi importante político do PPS, aquele partido neo-liberal, que se diz pós-comunista. É assim o COLUNISMO PARTIDÁRIO, um desserviço ao exercício da democracia, pelo seu potencial de dano à formação da cidadania brasileira.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

POR QUE OPINIÃO PUBLICADA ?

POR QUE OPINIÃO PUBLICADA ? Os grandes veículos de comunicação de massa do Brasil têm o conceito de OPINIÃO PÚBLICA sobre as as próprias notícias e comentários que publicam. Na verdade, esse é um falso conceito, pois o que fazem é OPINIÃO PUBLICADA; como seja publicam notícias e comentários de modo a confluírem com os seus interesses privados, ou que representam. Trata-se de OPINIÃO DE INTERESSE PRIVADO PUBLICADA com o apelido de "opinião pública". Mas, por que assim é ? - Simples, porque são empresas et pour cause visam lucro. E, para tanto há se atender interesses privados os mais diversos, inclusive em contrariedade aos interesses públicos, ou mesmo da maioria da sociedade em que atuam. Demonstra bem essa esquisita situação, a comprometer a propagandeada independência noticiosa e isenção jornalística, o caso de um grupo que, detentor de uma das maiores cadeias de supermercados do País, foi simultaneamente detentor de um aglomerado de meios de comunicação social em determinado estado brasileiro, constituído de rádios, televisão e jornal. Não é difícil prever aí as notícias e opiniões estivessem condicionados aos interesses privados do grupo empresarial que lhe deteve o controle acionaário, mesmo em casos conflitantes com o interesse público ou social, ainda que alardeada a independência e isenção jornalísticas. Outro caso, que também bem demonstra tal situação periclitante ao estado de IMPRENSA LIVRE, foi o de uma empresa de prestação de serviços de TV  a cabo cujo controle acionário pertencia a uma das revistas semanais de maior circulação no País. Mais uma vez, os interesses privados do mesmo grupo empresarial somente podiam confluir para se sobrelevarem, a qualquer interesse público ou social, a comprometer a tão reclamada IMPRENSA LIVRE. Tem-se, também, o caso de grupos empresariais que, proprietários de grandes extensões de terra para criação de gado, ou para monocultura,  são detentores de canais de televisão abertao, inclusive nas principais capitais do País. Daí a se ver, nos noticiosos desses canais de TV a demonização dos movimentos sociais pelo acesso à terra; dos movimentos ambientalistas pela cessação do desmatamento insano, da homogeinização com flora exótica das nossas matas - especialmente a Atlântica, quase extinta - e pela contenção das explorações que resultam socialmente apenas em erosão; das causas indígenas pela preservação do absoluto direito permanecerem a viver e perambular livremente pela extensão de todas as terras que desde sempre ocuparam; e da causa dos quilombolas, a reclamar o cumprimento do dever histórico que a nação tem para com eles, como seja o acesso à terra que lhes proporcione vida minimamente digna (Joaquim Nabuco, pouco depois da Lei Áurea, lamentou que a libertação dos escravos tebha se dado sem uma reforma agrária, que proporcionasse acesso à terras aos libertos, e hoje, não por acaso, a grande maioria dos que povoam as favelas e mangues é constituída de negros e mulatos.) Mas esses meios de comunicação empresariais, embora investigativos e escandalosos no que respeita ao trato da coisa pública e às atividades da sociedade em geral, não revela nenhum interesse em noticiar e opinar a origem dos grandes latifúndios construídos na Amazônia e no Cerrado desde o tempo do regime militar; cujo caso mais clamoroso é do Jari, com quase dez milhões de hectares, abrangendo parte da fronteira do País e que foi detido pelo então homem mais rico do mundo: Daniel K. Ludwig; o qual pretendia até internacionalizar aquele pedaço da Amazônia brasileira. Nesse toada, é que se compreende por que a grande imprensa livre e democrática brasileira, no conflito arrozeiros (rizicultores, apropriadaamente) versus indígenas, foi tão arraigada e abertamente defensora daqueles, sem lhes perquirir a origem lícita da ocupação das terras que exploravam, ao passo que negaciava o direito histórico desses outros à permanência no que sempre lhes pertenceu. Assim é, de tal modo e por outros mais, que a nossa sagrada imprensa livre e demais meios de comunicação social de massa não exprimem opinião pública, mas OPINIÃO PUBLICADA.