segunda-feira, 27 de setembro de 2010

CRISE EM CUBA - I : EDITORIAL FOLHA DE PERNAMBUCO DE 21/09/2010

São duas ­sérias medi­das anun­cia­das pelo gover­no cuba­no, a serem con­cre­ti­za­das nos pró­xi­mos meses: a demis­são de 500 mil ser­vi­do­res públi­cos e res­tri­ções à con­ces­são da car­ti­lha deno­mi­na­da "libre­ta do abas­te­ci­men­to", com a intro­du­ção de mudan­ças que afe­ta­rão boa parte da popu­la­ção. A essas deci­sões o gover­no da ilha defi­ne um novo mode­lo eco­nô­mi­co, cha­ma­do de "atua­li­za­ção do socia­lis­mo", abran­gen­do con­cei­tos como impos­tos e micro­cré­di­tos e a con­tra­ta­ção de empre­ga­dos por empre­sas pri­va­das.
No iní­cio, a Revolução lide­ra­da por Fidel Castro em 1959, teve amplo apoio da opi­nião públi­ca inter­na­cio­nal, como, tam­bém, dos cuba­nos que resis­tiam à dita­du­ra de Fulgencio Batista. A República de Cuba sem­pre foi obje­to de inter­ven­ções exter­nas, a par­tir dos domi­na­do­res espa­nhóis que ali per­ma­ne­ce­ram duran­te 400 anos. Em 10 de dezem­bro de 1898, a Espanha ­sofreu der­ro­ta defi­ni­ti­va com a inva­são de tro­pas norte-ame­ri­ca­nas. O gover­no dos EUA esta­be­le­ceu, então, um gover­no mili­tar na ilha, man­ten­do-o duran­te qua­tro anos.
Em maio de 1902 foi pro­cla­ma­da a República em Cuba, porém o gover­no norte-ame­ri­ca­no con­ven­ceu a Assem­bléia Constituinte  cuba­na a incor­po­rar um apên­di­ce à Constituição da Repú­blica atra­vés da qual era-lhe con­ce­di­do o direi­to de inter­vir nos assun­tos inter­nos cuba­nos, limi­tan­do sua inde­pen­dên­cia por 58 anos.
No pri­mei­ro dia de janei­ro de 1959, o Exército Rebelde, sob a lide­ran­ça de Fidel Castro, der­ro­tou um gover­no cuba­no títe­re dos EUA, para ins­tau­rar em 1961 uma repú­bli­ca socia­lis­ta, orga­ni­za­do de acor­do com os prin­cí­pios mar­xis­tas e leni­nis­tas (par­ti­do único, sem elei­ções dire­tas para car­gos exe­cu­ti­vos e impren­sa sob rígi­do con­tro­le). Castro pas­sou a ser o chefe de Governo, chefe de Estado e coman­dan­te supre­mo das Forças Armadas.
Sempre man­ten­do uma rela­ção con­fli­tuo­sa com os EUA, bus­cou natu­ral alian­ça com a então União Soviética para que a nação  sobre­vi­ves­se, ven­den­do à URSS  5 ­milhões de tone­la­das do açú­car a pre­ços mais ele­va­dos do que os pra­ti­ca­dos no mer­ca­do inter­na­cio­nal, rece­ben­do petró­leo a pre­ços sub­si­dia­dos e ­cereais.
Era a vál­vu­la de esca­pe ao blo­queio comer­cial inter­na­cio­nal lide­ra­do pelos EUA na época da "guer­ra fria", quan­do Cuba per­mi­tiu a ins­ta­la­ção de mís­seis sovié­ti­cos, fato que quase defla­gra um con­fli­to ­nuclear entre as duas gran­des potên­cias mili­ta­res exis­ten­tes.
Os desen­ten­di­men­tos entre Cuba e os EUA se suce­de­ram, inclu­si­ve a der­ro­ta­da inva­são da ilha, esti­mu­la­da e finan­cia­da pelo gover­no norte-ame­ri­ca­no. Cuba, por sua vez, seguin­do os ­padrões ado­ta­dos, con­tro­lou os salá­rios men­sais, rea­li­zou uma gran­de refor­ma agrá­ria, cujas pri­mei­ros 14 mil hec­ta­res per­ten­ciam à famí­lia Castro.
Na sequên­cia da Revolução, houve exe­cu­ções de adver­sá­rios, milha­res de pri­sio­nei­ros polí­ti­cos (hoje, segun­do o grupo opo­si­cio­nis­ta Comissão Cubana de Direitos Humanos, redu­zi­dos a 200 ou 300). Doente, o coman­dan­te Fidel Castro pas­sou o poder ao irmão Raul Castro, que vem, len­ta­men­te, pro­mo­ven­do algu­mas mudan­ças.
Em ter­ri­tó­rio cuba­no, é impor­tan­te refe­rir a exis­tên­cia de uma base mili­tar dos EUA, em Guantánamo, o que impli­ca na vio­la­ção da sua sobe­ra­nia. Agora, o gover­no cuba­no pare­ce sina­li­zar para o mundo que suas difi­cul­da­des são de gran­de vulto, ampa­ra­da a eco­no­mia, pra­ti­ca­men­te, no fluxo de turis­tas que visi­tam a ilha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário