terça-feira, 21 de setembro de 2010

Arsênio em Paracatu atinge níveis de genocídio.

Em continuação ao que a IMPRENSA LIVRE não repercute como deveria, se realmente servisse à OPINIÃO PÚBLICA, reportaremos agora a um alarme sobre um atentado atual e continuado à saúde pública e ao meio ambiente em Paracatu, no estado das Minas Gerais, pelas atividades da maior mina de ouro a céu aberto do País, procedidas pela KINROSS GOLD CORPORATION, empresa canadense, com sede em Toronto, que adquiriu o empreendimento à Rio Paracatu Mineração - RPM, cujo controle acionário pertencia aos grupos EIKE BAPTISTA e outro majoritariamente controlado pela ex-premier britânica Margareth Tatcher.
Trata-se de um artigo do médico Sergio Ulhoa Dani, graduado e habilitado no Brasil e na Alemanha, divulgado publicamente desde Göttingen, embasado em pesquisas científicas realizadas sob a responsabilidade de organizações sociais brasileira e estrangeiras.
Vale a pena se inteirar do assunto, ocultado pelas empresas de mídia de grande público deste País.  

Arsênio em Paracatu atinge níveis de genocídio

Por Sergio U. Dani, médico e cientista, de Göttingen, Alemanha, 18 de
julho de 2010

Concentrações medidas de arsênio entre 32 mg/Kg e 2980 mg/Kg em
amostras de poeira colhidas nas residências e estabelecimentos
comerciais da cidade de Paracatu indicam que milhares de pessoas estão
sendo envenenadas crônicamente na cidade de 85 mil habitantes do
noroeste do estado de Minas Gerais, Brasil.

As amostras foram colhidas em duplicata em 20 residências e
estabelecimentos comerciais localizados no centro e na periferia da
cidade de Paracatu por pesquisadores do Instituto Medawar e da UFMG.
As análises foram feitas em duplicata no Departamento de Química da
Universidade Federal de Minas Gerais e no Laboratório de Análises
Geoquímicas do Instituto de Mineralogia da Universidade Técnica de
Minas de Freiberg, na Alemanha.

A poeira contendo arsênio é liberada 24 horas por dia a partir da mina
de ouro a céu aberto operada na cidade pela mineradora transnacional
canadense Kinross Gold Corporation. As rochas da mina contém
arsenopirita, o principal minério de arsênio. De cada tonelada de
minério, a mineradora retira em média apenas 0,4 g de ouro, mas 1 kg
de arsênio.

As atividades de mineração em rocha dura que envolvem explosão,
carregamento, transporte, britagem e moagem da arsenopirita resultam
na dispersão de quantidades inacreditáveis de arsênio tóxico que de
outra forma estaria preso nas rochas sem causar mal. O arsênio
liberado percorre longas distâncias através do vento e da água,
afetando a saúde de plantas, animais e seres humanos.

Estudos científicos provam que concentrações de arsênio no solo da
ordem de 7 mg/kg (7 partes por milhão, ou "ppm") já causam efeitos
graves sobre a saúde, como a doença de Alzheimer. As concentrações de
arsênio encontradas na poeira de Paracatu (32-2980 ppm) estão
aumentadas de mais de 4 a mais de 400 vezes esse valor, sendo que os
efeitos danosos crescem em proporção exponencial com a dose.

A dose da lei

Não há dose segura para substância cancerígena como o arsênio; os
limites legais de segurança são fixados meramente em função da
capacidade de detecção dos laboratórios. Graças aos avanços na
tecnologias de detecção e análise, o limite de detecção de arsênio
aumentou muito nos últimos anos, mas a legislação não acompanhou esse
avanço.

Apenas uma parte de arsênio por bilhão de partes de água potável (1
ppb) durante um longo tempo de exposição já constitui um risco para a
saúde e o ambiente. No entanto, muitos países ainda adotam 10 partes
por bilhão (10 ppb ou 10 microgramas / litro) como a concentração
máxima permitida por lei.

Menos de 10 partes de arsênio por milhão de partes de solo (<10 ppm
ou <10 mg / kg) estão associadas com prevalência e mortalidade da
doença de Alzheimer e outras demências. No entanto, muitos países
ainda adotam concentrações máximas variando de 10 a 100 ppm.

O corpo humano absorve arsênio principalmente por ingestão e inalação.
As vítimas não percebem isso, pois o arsênio é inodoro, insípido e
incolor. A dose de exposição é a exposição cumulativa por todas as
rotas.

Doenças já são visíveis

As doenças mais graves associadas ao arsênio, como doenças
cardiovasculares, câncer, diabetes e doença de Alzheimer normalmente
têm um longo período de latência, de modo que as vítimas do
envenenamento podem permanecer assintomáticas por muitos anos.

Entretanto, os primeiros sinais e sintomas do envenenamento crônico
por arsênio já podem ser observados em Paracatu: manchas de pele,
tosse crônica, doenças respiratórias, hipertensão arterial, doença
renal, resistência diminuída às infecções e indisposição geral.

As doenças crônicas causadas por arsênio causam sofrimentos e enorme
carga econômica para as famílias e para o município.

Responsabilidade civil e criminal

A mineração de ouro a céu aberto em Paracatu foi iniciada em 1987,
pela Rio Paracatu Mineração SA, uma empresa com participação do grupo
Rio Tinto e Eike Batista. Em 2006, a RPM foi adquirida pela
transnacional canadense Kinross Gold Corporation.

Desde 2007, a Kinross e os órgãos do governo encarregados do
licenciamento da mineração de ouro vêm sendo advertidos dos riscos
para a saúde da continuidade da mineração em Paracatu. Em vez de
encerrar a mineração, o governo preferiu autorizar a sua expansão para
mais 30 anos. Durante esse período, serão liberadas 1 milhão de
toneladas de arsênio a partir do minério triturado. O processo de
licenciamento, concluído em agosto de 2009, está sob investigação do
Ministério Público do Estado de Minas Gerais, com suspeita de
corrupção.

A Kinross e o município de Paracatu foram intimados essa semana no
bojo da Ação Civil Pública de Prevenção e Precaução proposta em
Setembro de 2009 pela Fundação Acangaú.

Baseada em estudos conduzidos pela Environmental Protection Agency
(EPA), agência de proteção ambiental dos Estados Unidos, a Fundação
Acangaú estimou os danos à saúde de 10% da população de Paracatu em
mais de 37 bilhões de reais, valor superior ao faturamento bruto da
mina de Paracatu nos próximos 30 anos de operação.
Poluir e matar nunca foi tão fácil e lucrativo

Impulsionadas pela alta mundial do ouro e pela baixa taxação do metal
no Brasil, dezenas de mineradoras transnacionais, a maioria delas
canadenses espalharam-se pelo território brasileiro, contando com o
apoio de autoridades governamentais brasileiras e canadenses.

A Kinross Gold Corporation é sediada em Toronto, no Canadá. A empresa
autoriza “pagamentos facilitadores" a membros dos governos dos países
onde ela atua, visando "facilitar seus negócios". Relatório
independente implicou o presidente da empresa, Tye Burt,
ex-funcionário do Deutsche Bank, em operações financeiras
fraudulentas. A mina de ouro de Paracatu é a maior mina da Kinross no
mundo e também a mina de mais baixos teores de ouro e mais alta
liberação de arsênio.

Os canadenses estão rindo à toa com a facilidade de ganhar dinheiro
com a mina de ouro em que se transformou o Brasil. Para Greg McKnight,
vice-presidente da mineradora canadense Yamana Gold, "o Brasil tem uma
excelente infraestrutura, os custos da mineração são baixos e o
processo de licenciamento é simples."

Campanha mundial

O mundo inteiro está despertando para os danos persistentes à saúde e
ao ambiente causados pela mineracao de ouro em grande escala. Esse
mês, o Parlamento Europeu aprovou resolução para proibição total do
uso de cianeto na mineração a partir de 2011.

O número de publicações científicas sobre intoxicação crônica por
arsênio cresce exponencialmente, comprovando as suspeitas de que mesmo
em baixos níveis de poluição ambiental por arsênio o organismo humano
é afetado por doenças de alto impacto biológico e sócio-econômico,
como diabetes, hipertensão, doença cerebrovascular, câncer, doença
renal e doenças neurodegenerativas, entre outras.

Uma campanha global para banir a mineração em rocha arsenopirita e
fazer as mineradoras pagarem pelas perdas e danos que causam está
sendo iniciada pela Fundação Acangaú, Instituto Serrano Neves e
Instituto Medawar, juntamente com diversas outras organizações
nacionais e internacionais, incluindo Rettet den Regenwald (Salve a
Selva), Mining Watch Canada, Society for Threatened Peoples
(Gesellschaft für bedrohte Völker - GfbV) e a Associação pelas Serras
e Águas de Minas.


--
Sergio Ulhoa Dani, Dr.med. (DE), D.Sc. habil. (BR)
Göttingen, Germany
Tel. 00(XX)49  15-226-453-423
srgdani@gmail.com

P.C.S.