segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Itamaraty na época da ditadura

Imperdível a leitura do artigo do jornalista Rui MARTINS, postado no blog TERROR DO NORDESTE, que ao abordar a figura notável de Sérgio VIEIRA DE MELO, morto em atentado no Iraque quando cumpria missão oficial de paz da ONU, refere-se também aos pais do diplomata, Gilda e Arnaldo VIEIRA DE MELO, e conclui por reportar a cassação do também diplomata Arnaldo por iniciativa do ITAMARATY, comandado à época pelo vetusto banqueiro MAGALHÃES PINTO.
Pelo muito que esse artigo pode contribuir para o revigoramento da democracia no País, eu o transponho aqui.

O Itamaraty na época da ditadura
Berna (Suiça) - Eu estava em São Paulo, num cyber café de uma galeria na Avenida Paulista, quando li a concessão da anistia póstuma ao ex-consul-geral do Brasil em Stuttgart, na Alemanha, Arnaldo Vieira de Mello.


E me lembrei de sua viúva, hoje com 92 anos, que encontrei no Palácio das Nações, em Genebra, quando ela ali estivera, vinda do Rio de Janeiro para participar de uma solenidade da ONU em memória e homenagem ao seu filho, Sérgio Vieira de Mello, morto num atentado em Bagdá.


E me lembrei também do jovem Sérgio, com quem fizera diversas entrevistas no Alto Comissariado da ONU, em Genebra, e que vira, pela última vez, já com a cabeleira começando a embranquecer, quando apresentava seu relatório sobre o Timor Leste, na comissão de Direitos Humanos. Ainda estava na CBN, quando, reportando noticiários internacionais, comentara sua provável escolha para secretário-geral da ONU.


Sem dúvida, Sérgio Vieira de Mello (foto) foi o maior diplomata brasileiro de todos os tempos, mas não trabalhava para o Itamaraty e sim para a ONU. Tenho aqui comigo, sobre minha mesa, um livro ao qual prestei uma modesta colaboração, escrito por Jacques Marcovitch, cujo título é Sérgio Vieira de Mello, Pensamento e Memória, no qual tantos diplomatas e acadêmicos brasileiros lhe prestam merecida homenagem.


E por que Sérgio não fizera carreira inicial no Itamaraty, onde seu pai Arnaldo Vieira de Mello trabalhou 28 anos? Alguns poderão responder por ter sido a filosofia sua primeira grande preocupação, mas outros se lembrarão que o brilhante jovem estudante do colégio Franco-Brasileiro, no Rio, preocupado com os conceitos de justiça e de paz, viveu ali o golpe militar de 1964 e preferiu continuar seus estudos em Friburgo, na Suíça, e depois na Sorbonne, em Paris. Aquela não era a época ideal para seguir o pai e fazer o Instituo Rio Branco, como logo lhe mostraram os acontecimentos.


Com efeito, cinco anos depois do golpe, quando faltavam alguns meses para Sérgio concluir seu curso de filosofia na Sorbonne, o Itamaraty procedeu a um expurgo sem precedente na história brasileira e demitiu 44 funcionários entre eles diplomatas de carreira, como seu pai, Arnaldo Vieira de Mello. “Não vejo nenhum sentido eu fazer carreira numa instituição que cassou meu pai”, diria ele aos amigos.


Da lista dos 13 diplomatas demitidos, em abril de 69, fazia também parte o poeta e diplomata Vinicius de Moraes. Ainda pouco antes de morrer, Vinicius tentou recuperar sua condição de diplomata, mas isso lhe foi negado pelo Itamaraty.

Alguns dos colegas cassados de Arnaldo e Vinicius, abandonados por amigos temerosos da repressão militar, acusados de homossexualismo, alcoolismo ou subversão, passaram a ter vida difícil e próxima da miséria. O pai de Sérgio Vieira de Mello, morreu desgostoso, seis anos depois da cassação, que o tinha privado de uma próxima nomeação como embaixador.

No ato da concessão da anistia póstuma a Arnaldo Vieira de Mello, conta o relatório da Associação Brasileira da Imprensa, que o Conselheiro da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Virginius José Lianza da Franca, fez ampla e minuciosa descrição daquela época de caça às bruxas e das violências então praticadas pelo Itamaraty sob a batuta e com o aval do Ministro Magalhães Pinto, que assinava à margem dos processos despachos determinando o prosseguimento da perseguição.

Lembrou Virginius que Sérgio Vieira de Mello deixou de concorrer ao Instituto Rio Branco, onde se tornaria funcionário do Itamaraty, em protesto contra o tratamento que o governo brasileiro dera a seu pai, cortando sua carreira sem processo regular nem direito de defesa. "A ditadura é uma realidade", disse então Sérgio Vieira de Mello.

Conta também uma reportagem publicada em O Globo, sob o título Repressão no Itamaraty – os tempos do AI-5, como agiu a ditadura militar para obter os nomes dos que seriam cassados:

“Para compor a lista, a comissão recrutou informantes civis e militares. Sua primeira medida foi despachar circular telegráfica aos chefes de missão no exterior, intimados a entregar os nomes de servidores “implicados em fatos ou ocorrências que tenham comprometido sua conduta funcional”. Arapongas das Forças Armadas cederam fichas individuais de mais de 80 diplomatas.??Também assinam o relatório os embaixadores Carlos Sette Gomes Pereira e Manoel Emílio Pereira Guilhon, que auxiliaram Câmara Canto na missão sigilosa.?? O chefe da comissão encerrou o texto com um autoelogio patriótico: “Tudo fizemos para atingir os objetivos colimados e preservar o bom nome do Brasil e do seu serviço exterior”.

Não se pode deixar de pensar, nestes dias de debates sobre a Comissão da Verdade, onde estão e o que aconteceu com esses delatores que arruinaram a vida de tantos colegas.

Muitos ignoram que Sérgio Vieira de Mello, combativo e dinâmico funcionário da ONU, participou, em Paris, da revolta estudantil de maio de 1968, tendo sido preso pela polícia parisiense, quando se manifestava na Sorbonne. Uma comovente biografia de Sérgio é o livro O Homem que Queria Salvar o Mundo, de Samantha Power.

Também sobre minha mesa, o livro de Jason Tércio, Segredo de Estado, no qual se reconstitui o desaparecimento, durante a ditadura militar, do deputado Rubens Paiva. Nas primeiras páginas, o relato do telex com informações fornecidas pela embaixada brasileira de Santiago do Chile ao DoiCodi, denunciando duas passageiras do vôo Varig com mensagens de exilados que levariam ao deputado. Era uma época em que o Itamaraty trabalhava com a ditadura.

À saída do Palácio das Nações, ao cumprimentar dona Gilda e lhe contar minha admiração por seu filho, lhe perguntei se já havia recorrido à Comissão de Anistia com relação à cassação de seu marido. Se essa intervenção foi de alguma valia, sinto-me feliz. No meu texto para o jornal, depois de descrever a homenagem lembrei a injustiça ao pai de Sérgio Vieira de Mello cometida pelo Itamaraty. Não sei se foi publicada.

Nem sempre, mas geralmente as demissões arbitrárias, expurgos e perseguições de toda sorte são revistos e as nódoas ficam nos que as motivaram, agiram ou as aplicaram como ditadores, policiais ou pau-mandados.

Rui Martins, Direto da Redação
Postado por TERROR DO NORDESTE
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sexta-feira, 24 de junho de 2011

O CAVALEIRO DA TRISTE FIGURA

Caros amigos, é imperdível o artigo, da autoria de Izaias Almada, publicado no blog ESCREVINHADOR, de Rodrigo Vianna, na terça-feira, 17/05/2011 - às 15:09 e atualizado às 15:12 - a respeito da intelectualidade do "príncipe dos sociólogos brasileiros". pelo que ouso transcrevê-lo aqui, sem comentário.

O cavaleiro da triste figura
Por Izaías Almada*

Elevado à invejável condição de conselheiro da oposição venezuelana ao presidente Hugo Chávez (provavelmente a oposição mais incompetente e retrógrada da América Latina) e tal qual um Dom Quixote às avessas, o sociólogo e ex-senador da República, Fernando HenriqueCardoso, que durante oito anos ocupou a presidência da República Federativa do Brasil, tem aproveitado alguns espaços que lhe concede a mídia nativa para deitar falação sobre aquilo que entende ser ainda da sua competência, investindo contra moinhos da sua não tão rica imaginação.

Conhecido por sua capacidade em ser prolixo ou mesmo de causar alguma entropia ao expressar o próprio pensamento, questão abordada com acuidade pelo pensador e humorista Millôr Fernandes, o incansável sociólogo costuma perorar contra o findo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, arriscar algumas profecias sobre o que poderá ser o governo da presidenta Dilma Roussef e, ainda sob a ressaca da derrota de seu fiel escudeiro nas últimas eleições presidenciais, arriscar opiniões sobre os caminhos que a oposição brasileira deveria trilhar nos próximos anos, como, por exemplo, deixar o povão de lado e se embrenhar mais pelos rincões da classe média de cabeça feita pela velha mídia e por alguns blogues limpinhos e cheirosos. Ou que seu partido deve se aliar ao que de mais conservador existe no cenário partidário no Brasil, o DEM.

Dele, disse há algum tempo Millôr Fernandes em um de seus implacáveis escritos:

“De uma coisa ninguém podia me acusar — de ter perdido meu tempo lendo FHC (superlativo de PhD). Achava meu tempo melhor aproveitado lendo o Almanaque da Saúde da Mulher. Mas quando o homem se tornou vosso Presidente, achei que devia ler o Mein Kampf (Minha Luta, em tradução literal) dele, quando lutava bravamente, no Chile, em sua Mercedes (“ A mais linda Mercedes azul que vi na minha vida”, segundo o companheiro Weffort, na tevê, quando ainda não sabia que ia ser Ministro), e nós ficávamos aqui, numa boa, papeando descontraidamente com a amável rapaziada do Dops-DOI-CODI.”

Como todo bom autista político, o senhor FHC diz que seu partido deve esquecer o povão. E eu pergunto: desde quando o PSDB, em especial o paulista, se preocupou com o povão? Nos anos dourados do neoliberalismo e do convescote peessedebista em São Paulo, a mídia, a classe política neoconservadora e sua particular e encomiástica turma acadêmica enchiam o peito e babavam com as sandices (sempre ditas com o ar de ciência política) proferidas pelo louvado sociólogo. Cito uma vez mais Millôr Fernandes:

“O que me impressiona é que esse homem, que escreve mal — se aquilo é escrever bem, o meu poodle é bicicleta — e fala pessimamente — seu falar é absolutamente vazio, as frases se contradizem entre si, quando uma frase não se contradiz nela mesma, é considerado o maior sociólogo brasileiro.

Nunca vi nada que ele fizesse (Dependência e Desenvolvimento na América Latina, livro que o elevou à glória, é apenas um Brejal dos Guajas mais acadêmico) e dissesse que não fosse tolice primária.
“Também tenho um pé na cozinha”, “(os brasileiros) são todos caipiras”, “(os aposentados) são uns vagabundos”, “(o Congresso) precisa de uma assepsia”, “Ser rico é muito chato”, “Todos os trabalhadores deviam fazer checape”, “Não vou transformar isso (a moratória de Itamar) num fato político”. “Isso (a violência, chamada de Poder Paralelo) é uma anomia”. “E por aí vai…”

FHC é hoje uma figura patética. Uma espécie de cavaleiro da triste figura e que não tem nada de ingênuo nos seus ideais. Ele e seu fiel escudeiro José Serra nem de longe nos comovem como os personagens de Cervantes. Pelo contrário: o mundo que enxerga esse senhor e as fantasias que dele faz, apenas confirmam o seu descompasso com esse vigoroso Brasil que surgiu após o seu desastroso, entreguista, incompetente e não menos corrupto governo.

O país deveria não só esquecer o que esse senhor escreveu, mas também apagar de sua memória histórica esse personagem de tão triste figura.

Izaías Almada é escritor, dramaturgo, autor – entre outros – do livro “Teatro de Arena: uma estética de resistência” (Boitempo) e “Venezuela povo e Forças Armadas” (Caros Amigos).

*Texto originalmente publicado no Blog da Boitempo

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O HOMEM DO IBGE E A PREVIDÊNCIA SOCIAL

O YAHOO, hoje (08/06/2011, noticiou:
"Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Eduardo Pereira Nunes, disse que, a partir de 2050, se o crescimento da população mantiver o ritmo atual, a Previdência Social enfrentará problemas.
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Segundo afirmou Nunes, de acordo com a Agência Senado, embora o Brasil ainda não enfrente situações dessa magnitude, “o futuro chega”. Para impedir problemas no sistema, o presidente do IBGE acredita que ainda há tempo para fazer mudanças.
Contudo, as medidas para evitar colapsos no sistema Previdenciário devem ser adotadas o quanto antes."
COMENTO:
- O homem do IBGE apresenta uma lógica característica do economista capitalista, que tem esse instrumento do mercado - a economia - como ciência social, que não o é, pelo menos no próprio raciocínio condutor da política econômica dos países ocidentais, desde o século XIX.
- Se a economia é uma ciência social e a previdência tem por fim prevenir o bem estar social da população, não há como fugir à lógica de que se deve, hoje, trabalhar meios eficazes de amealhação de recursos para garantir o êxito daquele futuro; NÃO, equivocada ou propositalmente em favor das benesses presentes dos grandes grupos empresariais e financeiros, há que se reduzir desde já os benefícios que garantiriam aquele bem estar social.
- Os economistas ocidentais, aliados do deus mercado, têm reiterada e fragorosamente, se desqualificado como cientista sociais, ao verem suas avaliações sobre o futuro imediato serem contrariadas pelas sucessivas crises do capitalismo, que no fundo, são apenas manifestações episódicas de uma só crise crônica, motivadora do colonialismo, imperialismo e guerras, impeditivas de qualquer possibilidade de paz social, seja em nível de classes ou de nações.
- Outro grave erro que cometem esses economistas, afora o comprometimento intelectual condiconado pelo ilusório sucesso desse sistema socialmente desumano, é o método de análise das tendências imediatas da economia a partir, sempre, de um retrato do momento em que se vive; como se a sociedade não fosse dinâmica em todos os aspectos pela queal se analise.
- Em resultado, as suas propecções resultam não só tendenciosas, mas ainda em rotundas frustrações.
PCS