DUAS RÁPIDAS OBSERVAÇÕES SOBRE O PRESENTE MOMENTO DA CAMPANHA ELEITORAL PARA A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Há um mês e poucos dias da data de realização do primeiro turno da eleição para a Presidência da República, tenho observado que a atropelada provocada pela trágica morte acidental do candidato Eduardo Campos, ao oportunizar a ascenção da sua companheira candidata a vice-Presidente Marina Silva à cabeça da chapa e acometer de violenta emoção o estamento urbano de classe média a ponto de trazer para aquela a intenção de voto de largas parcelas da população pelo próprio extinto candidato não conquistadas, ensejou ao menos duas possibilidades de fatos políticos relevantes que se pode afirmar eram imprevisíveis até então.
Uma dessas possibilidades é de efetivação imediata, já ocorrente e a se concretizar na data da votação no primeiro turno da eleição, qual seja a cristianização do candidato à presidência Aécio Neves, pela adesão em massa dos seus até recentes apoiadores e eleitores à candidatura da Marina Silva. Para esses, que se constituem em integrantes da classe dominante no País e seus sequazes políticos, qualquer candidatura, de qualquer agrupamento político mesmo com tinturas de social-democracia, mas que vislumbre a possibilidade de vencer nas eleições a candidatura do Partido dos Trabalhadores - não importa se é Dilma Rousseff, ou se fosse Luiz Inácio Lula da Silva ou qualquer outro - terá o seu entusiasmado e total apoio e voto. Trata-se de mais uma escaramuça da inesgotada luta de classes, pois ainda que o P.T. tenha na prática governamental se aproximado muito de setores nacionais da classe dominante, seja por estratégia política (garantir a governabilidade que lhe minizaria a possibilidade de sofrer golpes de estado - sempre desejados e projetados pelos setores mais radicais e retrógrados da direita nacional) seja por estratégia de política econômica com seus desdobramentos sociais, persiste e sobreleva o caráter indelével do partido como a maior agremiação organizada de massa representante legítima da classe trabalhadora e cujo sucesso contínuo poderá vir a proporcionar-lhe - em futuro incerto, a depender das circunstâncias históricas - a liderança efetiva da assunção ao poder dessa classe.
Assim,a candidatura de Aécio Neves tende a ser abandonada pelos seus mais expressivos representados, que passariam - como já vêm passando, paulatinamente, para a candidatura de Marina Silva, com o implemento dos maiores veículos de comunicação de massa no País, a criar a avalancha que levaria ao final à derrota eleitoral da candidatura do P.T., em um movimento que se assemelha historicamente ao que o extinto Partido Social Democrata - P.S.D. fez com Cristiano Machado, o seu candidato à Presidência da República em 1950. Como decorrência da traição ao seu próprio candidato, o P.S.D. veio a formar no governo do ex-Presidente Getúlio Vargas, o candidato beneficiado pela adesão não oficial e que se elegeu, mas que não concluiu o mandato, pois se suicidou no cargo, em 24 de agosto de 1954; uma verdadeira tragédia política que sobrestou por dez anos o golpe de estado ja então propagado pela extinta União Democrática Nacional - U.D.N. , partido político maior legítimo representante da classe dominante no Pais.
A outra possibilidade que exsurge dessa configuração pré-eleitoral atual teria o seu acontecimento mediato, caso a candidatura de Marina da Silva venha a sair vencedora final neste cotejo para a Presidência da República, pois se daria a partir do primeiro dia do seu governo. Dá-se que essa candidatura, além da adesão acelerada a ela de representantes econômicos e políticos de setores importantes das classes dominantes, conta nos seus quadros políticos mais influentes com egressos de setores um tanto à esquerda, principalmente ambientalistas que têm pensamento e ação políticas radical e explicitamente opostas aos daqueles, especialmente os do agronegócio. Para realizar a sua vitória eleitoral, é imprescindível a Marina Silva contar com o apoio e o empenho total desses opostos inconciliáveis, pois que os meios materiais necessários para o alcance desse fim quem os tem são uns e o indispensável apelo eleitoral quem os tem são os outros.
Assim, o drama da desgovernabilidade de Marina Silva começaria logo no primeiro dia do seu governo, pois a composição do seu ministério já desagradaria a uns ou a outros, ou a uns e a outros, pois as nomeacoes para o ministerio governamental indicariam, no seu conjunto ou mesmo individualmente, qual o rumo economico, social e politico que o governo adotaria, ou o rumo de cada setor especifico do governo. Com os apoios eleitorais que a candidatura de Marina Silva mantem no presente, é de se prever um grau de dificuldade imenso - que se acerca da impossibilidade - para o que seria o seu governo obter o mínimo de entendimento com as duas casas do Congresso Nacional. Encontrar-se-ia ela no beco sem saída em que entrou o ex-Presidente Jânio da Silva Quadros que se elegeu com o apoio do alta burguesia paulista e a votação de massas populares dispersas, inclusive de parte significativa do sindicalismo atrelado ao antigo Partido Trabalhista Brasileiro - P.T.B., que tinha o apelido na época de partido dos pelegos, porque os seus integrantes a tudo acomodavam. Tanto assim foi que o vice-Presidente eleito foi João Goulart , o Jango, que fora candidato pela chapa do derrotado marechal Henrique Teixeira Lott (A regra eleitoral da epoca admitia o voto para Presidente e para vice-Presidente de chapas diversas).
Como amplamente sabido, o Ex-Presidente Jânio Quadros diante da ingovernabilidade que se instalou em face de ações suas no campo econômico de profundo liberalismo (inclusive, o seu ministro da Fazenda era um banqueiro), às quais contrapunha ações de pirotecnia politica em tentativa de agrado a setores da falsa esquerda que o apoiara também (a exemplo da condecoração de Che Guevara, no Palácio do Planalto, com a Ordem do Cruzeiro do Sul), não conseguindo o apoio congressual para os seus alegados propósitos governamentais, renunciou ao mandato com apenas sete meses do seu cumprimento. Renuncia essa que, a marcar a abertura de uma nova grave crise culminada com o golpe de estado de 1964 - alentado desde os idos de 1950 pelas classes economica e política dominantes do Pais, bem pode tambem ser caracterizada como tragédia política.
Diante dessas duas possibilidades históricas que se abrem neste momento político brasileiro, veio-me à lembrança uma corrigenda de Karl Marx sobre uma menção de Hegel - salvo engano, constante de O Dezoito Brumário: "Numa de suas obras, Hegel observou que os grandes acontecimentos e personagens históricas se repetem, por assim dizer, duas vezes; esqueceu-se de acrescentar: a primeira como tragédia, a segunda como farsa".
Pedro Cordeiro da Silva, em 03/09/2014
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