IMPRENSA LIVRE E INDEPENDENTE, FALÁCIA NO BRASIL
O jornal goianiense OPÇÃO publicou no dia 23/06/2019 artigo do jornalista Euler de França BELÉM, intitulado "Papel de editor é abrir espaço para concorrentes divergentes e não patrocinar espírito de seita".
Pelo que explicita o articulista, em sendo verdadeira, a sua exposição demonstraria que o jornalismo ali praticado se aproximaria, ao menos, do ideal de imprensa livre e independente, como conceituado pelos sábios teóricos, e proprietários, dos meios jornalísticos nacionais.
Lá está escrito que "O Jornal Opção quer informar e contribuir para a formação de seus leitores, mas não se interessa por “fazer cabeças”. Por isso, vai continuar publicando textos, internos, de seus repórteres, e externos, de colaboradores, divergentes — de centro, de direita, de esquerda. Seja o que for."
Preparatoriamente à exposição de prática de liberdade de imprensa por sua editoria, o jornalista deu a conhecer o motivo condutor para tal, qual seja lamuriou-se de patrulhamento ideológico ostensivo ao Jornal Opção por "dois tipos de leitores - alguns inclusive intelectualizados -... Uns queriam "puxá-lo para a direita e outros para a esquerda."
Em discordância da opinião ali esposada pelo jornalista do Opção, entendo que a divergência ostensiva - acertada ou equivocada - de leitores ao posicionamento eventual ou seguido do jornal que, eles considerem política ou eticamente equivocado, não pode jamais ser entendido como "patrulhamento ideológico", de direita ou de esquerda. Trata-se tal só da liberdade de expressão pública, inerente a toda pessoa, todo cidadão.
Penso que esse tipo de lamúria explica-se pelo hábito criado pelo lamurioso no exercício do próprio ofício do jornalismo, a usar, talvez com largueza extremada, a incontestável liberdade de expressão como se direito exclusivo fosse da sua profissão, sem se aperceber que esse é um direito universal.
No entanto, por somente conhecer a existência do Opção agora, devo dizer que não me é possível fazer qualquer juízo sobre o posicionamento político ou ético do jornal nem da sua editoria em particular.
Colho, entrementes, a oportunidade para reafirmar meu antigo pensamento de que não há jornalismo isento nem imprensa livre, como se tem por conceito nos países de economia liberal, mormente os da periferia mundial. Trata-se de sofisma.
Toda opinião, inclusa primordialmente a jornalística, tem conteúdo subjetivo e, ipso facto, trás implicitamente a defesa de interesses determinados, por mais inindistinguíveis a se ocultarem.
Também a empresa jornalística, por sua natureza comercial, dependente financeiramente de patrocínio de anunciantes, por consequência tem suas atividades objetivas sujeitas aos interesses particulares dos seus patrocinadores.
Assim, não se pode falar em imprensa livre enquanto sua editoração ocultamente for peça de engrenagem de interesses empresariais.
A verdadeira imprensa livre e democrática seria aquela expressada pelo conjunto dos veículos jornalísticos, possivelmente diferentes e divergentes em suas opiniões, cada qual realmente independente para assumir e defender os interesses que representam com legitimidade, identificadamente, abertamente, publicamente. Sejam esses interesses de classe, de estamento, de credo, de profissão, et alii.
Para assim serem, os veículos jornalísticos, no interesse da possibilidade de se ter realmente uma imprensa livre e democrática, não deveriam ser constituídos como empresas, mas sim apenas como instituições civis, seja fundação ou associação, porta vozes das diversas vertentes sociais, econômicas, políticas, filosóficas e religiosas.
P.C.S.
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