domingo, 26 de dezembro de 2021

Um Conto de Natal.Pedro C. da Silva.23/12/2021

 

UM CONTO DE NATAL

Pedro C. da Silva.           

Nestes dias de vésperas de Natal, em que se vive sob a autoridade neoliberal fascistóide, me acode ao pensamento a sensatez do povo português da segunda década deste século. Talvez também porque as cicatrizes que deixaram a ditadura autocrática conservadora pré-capitalista, na qual o povo lusitano se quedou por cerca de meio século e dela se libertou por iniciativa e liderança de militares adeptos do comunismo, tenham lhe acicatado a razão e o motivado a concertar pelo voto a base para a “geringonça”, acordo parlamentar que alçou o Partido Socialista ao governo da República.  Pelo voto parlamentar que ensejou a “geringonça” socialista, o povo português consertou o erro que cometera há alguns pouquíssimos anos ao eleger um parlamento que entregara o poder governamental aos neoliberais furibundos e ágeis no malefício. Agora, pois, lhe seriam restaurados os direitos econômicos e sociais que lhes haviam sido violentados.

Este conto é de Natal e, por isto, vou falar de Natal. E como não reportar a melhor recordação de vésperas de Natal que eu tenho?

Foi em Portugal e começou em Viseu, com a abertura das festas natalinas. O povo, liberto então do neoliberalismo autoritário do estado mínimo pela formação de um parlamento de liderança socialista, comemorava nos dias de vésperas da data máxima cristã a restauração do que lhe fora arrancado pela austeridade econômica e fiscal, tais como dois meses a mais de salários anuais, o mínimo para a vivência digna dos beneficiários dos sistemas previdenciários, a revalorização dos vencimentos do funcionalismo público. Foram fechados cerca de vinte por cento dos estabelecimentos comerciais, principalmente restaurantes, logo no início desta política de estado mínimo neoliberal.  Aí ressurgira a mendicância, disfarçada como pedido de auxílio para atender urgências, principalmente em Lisboa, depois no Porto. Eu estava lá e vi.

Estava em Portugal durante três das quatro últimas semanas outonais de ano anterior, como fiz por anos seguidos, e assisti a movimentos populares vigorosos contra aquela política governamental neoliberal, submissa às exigências da troika - banco central europeu, FMI e UE. Entre as manifestações de protesto a que mais havia me atentado fora a interdição das duas mãos de trânsito na Ponte Vinte e Cinco de Abril, que permite o trânsito rodoviário entre Lisboa e Almada sobre o Rio Tejo, por dezenas de autocarros (ônibus) de diversos concelhos (municípios) compreendidos na região da capital lusitana. Impressionou-me não só a massa de veículos mas também o inteligente trabalho dos seus condutores que, para o bom sucesso da sua movimentação mantinham a velocidade dos veículos qualquer coisa acima do zero, apenas movimentando-os para evitarem a multa por paralisação sobre ponte. Os veteranos de guerra também se movimentaram na altura (ocasião) contra a austeridade econômica e fiscal implantada, que estava a levar Portugal cada vez mais para a derrocada não só econômica – a dívida pública sempre a subir, o PIB estagnado – como principalmente social, decorrente da rápida elevação dos níveis de desemprego, tal qual não se presenciava há muito.

Nesse contexto, em um início de noite fui a uma taberna típica (restaurante popular) nos arredores de Queluz, com o propósito de saborear um caldo verde, e lá fiz conhecimento com um veterano da Marinha de Guerra portuguesa, que adentrara ao estabelecimento para beber algo. Como na tasca (bar de restaurante popular) as três mesas existentes estavam ocupadas e ele bebia em pé, apoiado no balcão, o convidei a se sentar à mesa que eu ocupava; ao que ele se recusou sob a desculpa de que sempre bebia ali naquela postura, e invocou o testemunho da rapariga (moçoila) que atendia a todos ali. Ele não se sentou, serviu-se como alegou ser do seu hábito e mantivemos uma longa conversa, entrecortada de quando em vez por poses para fotografias daquele encontro. Ele vestia fatiota militar, com quepe azul marinho de lã, medalhas na lapela do casaco igualmente azul marinho de lã. Vivamente emocionado, falou que viera da manifestação dos veteranos de guerra em Lisboa contra a política governamental neoliberal obediente à troika. Ao cabo, diante da minha entusiasmada solidariedade aos que em Portugal penavam por causa daquela nefasta política, me entregou de presente o seu broche de veterano de guerra, retirado da lapela do seu casaco militar.

Alguns outros portugueses do povo, ante as amarguras econômicas porque passavam, compartilharam comigo também manifestações de posicionamento resoluto contrário àquela política da troika aplicada a Portugal, à qual reagiram os governos da Grécia e da Itália, endividados tal como Portugal, e que se saíram melhor logo.  Em Barcelos, a comerciante de uma pequena loja, a se reclamar dessa política, disse a mim que seria ótimo se o ex-Presidente Lula fosse para lá e governasse o país.  

Essa a causa intrínseca daquela extrínseca manifestação memorável do povo a comemorar a abertura do Natal em Viseu sob os novos ventos socialistas, sem menoscabo à edilidade local que enfeitou a cidade como merecia em face do renovado tempo de prosperidade que se iniciava para o país e para o povo português. Protegido do forte frio por vestimentas adequadas, a populaçao não arredava o pé da feira natalina, do rocio (praça principal da cidade), da Rua Direita, dos outros espaços centrais disponíveis para tal, a comemorar desde aqueles dias de vésperas de Natal o início da sua restauração econômica e social sob o governo de liderança socialista.

 Presenciei a mesma comemoração da população no Porto, em Póvoa de Varzim, em Lisboa e outras cidades portuguesas, com suas luzes e árvores natalinas maravilhosas. Afora as comemorações em Viseu, me tocou muito a preparação natalina em Seia, com pinheiros natalinos de médio porte deitados nas calçadas para venda aos passantes pedonais (transeuntes). E o povo, lá em Seia, na Serra da Estrela, mesmo com bastante frio, a vender, a comprar, a passear, a sorrir, a conversar, feliz por voltar a viver um tempo melhor, sob governo de liderança socialista.

Maria Farinha, de 23 para 25 de dezembro de 2.021.

 

 

 

 

 

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